#85. É o carro do sonho que está passando
Notas aleatórias às vésperas da publicação do livro novo
Alô alô, freguesia.
Na última segunda-feira, dia 29 de julho, começou a campanha de pré-venda do meu livro novo, o romance 108. Pode ser que você já saiba, porque na semana passada publiquei um texto no Sofá falando sobre isto.
Como estou envolvida até o pescoço no lançamento (o livro sai em setembro no Brasil), aqui vai uma edição desta newsletter em fragmentos. Entre ligações da gráfica e doze emails para organizar encontros em diferentes cidades brasileiras, este é a edição que temos para o momento
: uma espécie de playlist de impressões misturadas tocando assimetricamente em modo shuffle.
Uma obra de arte possível: quando o futuro chegar, colarei os cacos desconjuntados deste texto para fazer a escultura de quem fui em agosto de 2024.
Que tipo de escultura eu seria? Que tipo de escultura você seria, se pudesse colar os fragmentos das suas ideias, impressões, sensações & sentimentos no dia de hoje?
Eu seria um poema dadaísta, daqueles nos quais um verso não tem obrigação de fazer sentido com o verso anterior.
E você?
É o carro do sonho que está passando.
Nunca publiquei um livro solo por editora.
Publiquei em coletâneas e revistas literárias. Mas os meus livros, mesmo – aqueles que têm só o meu nome na capa -, estes saíram via autopublicação.
Primeiro publiquei um livro maior, O mundo sem anéis (2014). Depois dele veio uma boa coleção de pequenos livros experimentais ilustrados. Em todos os casos, a confluência foi a mesma: autora e editora somos eu mesma.
Não sei como é publicar por uma editora que não seja a minha própria pessoa. Tenho curiosidade e desejo de um dia publicar por uma editora que não seja eu.
Talvez nunca aconteça. Talvez aconteça e seja terrível. Talvez seja legal. Provavelmente será tudo junto.
Será que eu desejo mesmo?
É que na verdade eu gosto muito de fazer os meus livros.
Antes de tudo, tem a adorável parte da editoração (será que é assim que chama?) – ou seja, de transformar o manuscrito no objeto livro.
Começo pela capa. Ouvi de muitas fontes diferentes que a capa é um dos elementos mais importantes para o sucesso de uma obra. Muitos leitores decidem comprar um livro pela capa.
Como não tenho editora, também não tenho chefe nem preocupações nem parâmetros de mercado. É livre. E é arriscado. Simplesmente escolho a ilustração de que gosto mais no atelier, misturo com um lettering meu e envio tudo para a designer. Peço opinião, ela me ajuda, no fim do dia a capa está pronta e linda.
Sempre que publico um livro novo, corro o risco de fazer uma capa brega que pode encalhar anos de escrita.
Paciência. Existem riscos bem piores nesta vida.
O mesmo se pode dizer dos títulos.
Meu primeiro livro é uma narrativa de viagem contando a história da road trip que fiz sozinha de bicicleta por três meses. Quando pensei num nome para dar à história, foi este que me veio à cabeça: O mundo sem anéis. É um título esquisito que não indica nada, absolutamente nada que se passa na narrativa.
Mas o título ficou na minha cabeça e eu deixei que acontecesse. Faltou um(a) editor(a) para me questionar, a inércia tomou a frente e o livro saiu com este nome.
Nestes quase nove anos de lançamento, nunca ninguém me perguntou por que, exatamente, chamei-o assim. Até hoje, adoro o nome do meu primeiro livro. Se perguntassem, acho que responderia: era um título que precisava acontecer. Um título mágico, críptico e anti-literal.
E aí vem a parte de divulgar o livro. Então quer dizer que além de escrever eu ainda tenho que divulgar? Sair por aí anunciando?
Para minha surpresa, tem sido inesperadamente bom. O livro entrou em pré-venda e de repente uma incrível rede de pessoas se materializou. Uma amiga de anos gravou um vídeo lendo trechos, outra passou numa livraria de São Paulo para ver se era um espaço apropriado para o tipo de lançamento, uma terceira ajudou em Brasília e Floripa, uma querida de anos sentou comigo para pensar numa série de lives.
Isso sem contar a designer que virou amiga, as pessoas que conheci durante as oficinas de escrita criativa, os leitores beta, a escritora incrível que leu o manuscrito e escreveu a orelha e o pessoal do selo Longe, de Brasília, que me convidou a publicar o livro anterior e ficou na minha vida até agora. Este livro sai pelo mesmo Longe.
Com tanta gente envolvida, será que ainda chamo o 108 de autopublicação?
Nas notas desencontradas desse momento que precede a chegada do meu novo filhote ao mundo, sou tomada pela impressão de que o livro é um trabalho coletivo. Parece-me estranho que não tenha percebido isto quando lancei o primeiro.
A gente escreve na solidão, claro. Mas entre a primeira versão silenciosa da escrivaninha e aquela que entra na gráfica há dezenas, centenas de mudanças empilhadas nas entrelinhas a partir da leitura de outras pessoas. Por cima de tudo ainda vem a capa, o projeto visual, e os lançamentos, a apresentação, os comentários em rede social.
O livro vira outra coisa e revela o coração da própria existência: ele sempre foi bem maior que eu.
Enquanto isso é o carro dos sonhos que vai passando.
No megafone do capô, aviso pra todo mundo, olha, gente, comprem o livro agora que está na pré-venda, é super legal, você ganha desconto e ainda vem sem frete, fresquinho, compre três leve dois, quem vai querer?
São 164 páginas, nata doce de leite creme e goiaba.
O 108 vem aí - novidades bem legais
-O livro está em pré-venda até o dia 20 de agosto. Comprar livros na pré-venda é uma forma muito especial de apoiar quem escreve e ainda receber o livro com desconto. Dá uma olhadinha, porque tem várias faixas de apoio legais.
-Se você está fora do Brasil ou prefere usar e-reader, o livro está disponível para pré-venda aqui no formato Kindle.
-Estou começando um círculo de lives do Sofá da Surina para celebrar o lançamento do 108. Anota aí: na próxima quinta, dia 8 de agosto, às 20h (horário do Brasil), vou fazer um bate-papo com a Márcia Baja no meu canal do Instagram (@surina_mariana) . Já falei dela no Sofá algumas vezes: a Márcia vem de uma experiência de 25 anos com meditação e tem um jeito muito especial de incluir o corpo e a natureza como métodos de contemplação e prática. Bora? Faremos uma conversa sobre vida contemplativa, tema que está no coração do percurso da Márcia e é um assunto central do 108.
-Ficou com curiosidade? Eu gosto muito deste vídeo no qual a Márcia fala sobre o que aprendeu com o silêncio.
Ah! E que vocês sejam felizes, sempre. Até a próxima,
Que seu livro faça um bom caminho literário!
é a magia da literatura acontecendo…