Eu tinha um lindo texto preparado para o Sofá da Surina de hoje. Estou na Índia, é primavera e esta vila no norte que dá de vista para as montanhas nevadas dos Himalaias tem a cor branca das rosas selvagens. Recebo ensinamentos, encontro amigos, observo de longe o monge de uns trinta anos que tira um selfie atrás da fumaça do chá.
Há um mundo se desdobrando neste coração do mundo que é a Índia, mas desta vez metade do meu coração muito humano está em outro lugar. Pela primeira vez nesses três anos de Sofá, não quero escrever.
Das caixas de som do café sai Patience no talo. Deve fazer uns vinte anos que não ouço Guns n’Roses, e - meu Deus! - como anos 90 eram bons, né? Uma melancolia brega à la Axl Rose se mistura com a tristeza que me sobe pelo pulmão ao assistir os vídeos dos bichos sendo resgatados no grande rio que virou Porto Alegre.
É só hoje. As histórias continuarão, claro. Contar histórias virou um dever, mais do que nunca, agora. Como disse o Rodrigo Casarin na última edição da Página Cinco, a imaginação é um antídoto para o horror; precisaremos de muita imaginação para nos refazer em meio às catástrofes climáticas.
Por enquanto, contudo, não tenho nada a dizer. Por enquanto, e por uma razão que não sei explicar, acho melhor ficar quieta. Esta semana, deixo o espaço aberto para o silêncio da fala distante das pessoas e dos bichos e das plantas e dos insetos e dos seres invisíveis que estão no sul do Brasil agora.
Do jeito que consigo, daqui da Índia, tento estar um pouco com vocês.
Aulão de Escrita Criativa hoje
Hoje, às 14hs, vai rolar um aulão de escrita criativa organizado pela
com 16 professores - incluindo eu. Vamos? Todo o valor arrecadado será dirigido para organizações da sociedade civil que estão trabalhando na linha de frente no Rio Grande do Sul. Detalhes e link para inscrição estão aqui embaixo.Para ler
Todos os textos aqui embaixo são imperdíveis:
Thiago Ambrósio Lage:
Transcrição de fala da Nikelen Witter na Anacronista:
A Ana Rüsche falando sobre a garganta de Cassandra:
Ah! E que vocês sejam felizes, sempre. Até semana que vem,
seu silêncio é perfeitamente compreensível. as imagens que chegam do rio grande do sul são da ordem do indizível.
Estamos juntos, pela distância, e à distância neste aperto/silêncio compartilhado. Nos vemos mais tarde!