Olá, tudo bem?
Este é aquele mês maravilhoso. Este é o mês em que termina a tensão do eterno tenho que levar um cachecol na mochila. Principalmente, este é o mês do verão no hemisfério norte e tudo que vive respira esta maravilhosa palavra
Bicicleta
Julho também é o mês do Tour de France, o evento ciclístico mais famoso do mundo que em 2022 completa 119 anos. Não sei é uma energia telepática enviada pra cá ou se é o calor, mas todo ano neste mesmo mês eu pedalo quase todo dia.
Não é tão fácil quanto parece.
Ondas de calor na Europa toda; o interior alentejano está registrando 40 graus centígrados. Mesmo assim. Quando saio de manhã, o bando de ciclistas já está com aquelas roupas de lycra horrorosas e óculos espelhados.
Entre as criações de porco preto que se estendem pelas planícies secas tomadas de oliveiras, consigo escutar o hipnotizante som das correntes misturado com o MÉ MÉ das ovelhas e das cabras.
Em julho, mês da fertilidade ciclística, acredito de novo que a vida vale a pena.
Um pequeno milagre
Em teoria, a bicicleta não devia ter entrado na minha vida.
Não vivi um caso de amor com elas na infância, tinha preguiça de ciclismo na adolescência e foi só quando me consultei com uma nutricionista, aos trinta, que enxerguei o pôster emoldurado do Lance Armstrong (sic) na parede ao fundo do consultório:
- Os melhores ciclistas são aqueles perto dos 30, querida
, ela me contou.
Saí direto pra bicicletaria. Minha primeira bicicleta de estrada foi uma Caloi Elite azul grande demais que me dava dor na cervical. Naquele mesmo dia comprei também um shorts daqueles acolchoados, mas naquela altura não havia ninguém pra me ensinar. Eu o vestia com calcinha por baixo e voltava dos pedais assada.
Nos idos de 2010, todos os ciclistas com quem eu pedalava em Brasília eram homens.
Todos.
A bicicleta como prática
Nos seus princípios de escrita criativa, Natalie Goldberg fala que a escrita pode ser usada como uma prática para conhecer a mente. Natalie pratica o zen budismo desde 1978. O mesmo princípio que aprendeu com seu mestre zen ela usa para escrever: show up.
Ou seja: compareça.
Compareça ao compromisso de sentar na sua almofadinha de meditação. Compareça, também, ao maravilhoso momento de sentar diante da página em branco para encontrar o que sua mente tem a dizer - uma hora ou outra você terá que conhecê-la.
A estes dois, incluo mais um: compareça ao compromisso de sentar no selim da sua bicicleta.
Sinto pelo ciclismo o mesmo que pela meditação e pela escrita. Toda vez que tenho que sair para pedalar bate aquela preguiça e vontade de me distrair com outra coisa. É por uma mistura de amor, dever e compromisso que simplesmente visto a roupa assombrosa de lycra.
E pedalo.
O que eu quero dizer é que o pedal pra mim é uma prática de conhecimento da mente.
Tenho um milhão de coisas pra falar sobre isso, mas hoje vou escolher uma só.
Esta
: todas as vezes que pedalo, consigo observar a tendência de me deixar seguir os pensamentos e ir longe. Sempre que isso rola num pedal, a paisagem e a relação com meu corpo desaparece junto com a imaginação. Fico perdida em fantasias, muito comum é a lista de compras, caio em buraco, me desvio da faixa.
Então eu volto para o pé e para o som da corrente.
Estou aqui de novo, no momento presente em que tudo pode acontecer.
E o que acontece? Bom, quando solto meus pensamentos obsessivos, o que acontece é que ideias criativas maravilhosas surgem da mente solta. Me aparecem frases incríveis para abrir uma história, título de livro e tudo quanto é tipo de insight que eu não sabia que podia surgir de dentro de mim.
Não sei exatamente por que é assim, mas haverá de ser um tema muito interessante de pesquisa.
O Lee diz que o mesmo rola quando ele está lavando a louça.
E você? Me conta: que atividade te devolve para o seu lugar real, aqui e agora?
Tudo bike
- O Kraftwerk tem um disco lindo lançado no ano de 2003 em homenagem ao centenário do Tour de France. Por que uma banda que está interessada em pensar tecnologia lança um disco sobre bicicleta? Eles respondem: porque o conjunto bicicleta-ciclista são o que há de mais próximo da fusão humano- máquina.
- Sei que não pode, mas confesso que pedalo de fone de ouvido. Por isso, então, vou recomendar este set que é o melhor do mundo pra pedalar e que você pode ouvir também se gosta de correr na rua, fazer exercício ou na academia ou se estiver treinando bike no rolo.
- Se você ainda não assistiu este desenho maravilhoso, faça uma gentileza consigo e veja.
- Pra quem não leu, meu primeiro livro é sobre a viagem de bicicleta que fiz sozinha por 3 meses pela França e pela Espanha. O mundo sem anéis está disponível para compra aqui (só na plataforma Kindle por enquanto) . Pois é, a primeira edição do livro físico esgotou rápido... Quem sabe ano que vem não publico uma segunda edição? Digam o que acham; adoraria receber impressões.
- Ando seguindo pelo Instagram a cicloviagem da Juli Hirata, a quem agradeço imensamente. Obrigada, Juli, por me colocar na estrada de novo através das suas histórias.
Ah! E que todos vocês sejam felizes, sempre. Até a próxima,